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domingo, 15 de maio de 2011

Bicicletada e o 'protesto da gasolina'*





* publicado no Blog do Vilar (10h01, 14 de maio de 2011)

Um dos representantes do movimento Bicicletada, em Maceió, fez um contraponto interessante ao protesto “Ninguém Aguenta Mais”, que reuniu diversas autoridades e entidades na orla de Maceió para protestar contra os altos preços dos combustíveis. Claro que preços extorsivos têm que ser combatidos, pois ferem o consumidor. Não só da gasolina, mas de qualquer item de primeira necessidade. Ainda mais quando se trata da gasolina, que é um fator que acaba determinado o preço de várias outras mercadorias, em função dos transportes de cargas por vias terrestres e os – consequentes – fretes!

Daniel Moura – o representante do movimento que citei acima - não é contra nada disso. Apenas acha abusivo o estardalhaço envolvendo autoridades e mídia. Estardalhaço este – coloca Moura (da Bicicletada) – que não se vê, por exemplo, para se investigar as empresas de transporte público municipal, que não se vê quando aumenta a tarifa do ônibus e em outros casos, onde pagamos por itens de primeira necessidade, que não possuem seus aumentos abusivos justificados.

O protesto ganha força – na visão de Moura – porque atinge uma classe privilegiada: a dos motoristas e seus possantes. “Querem baixar o preço da gasolina e assim usarem mais carros, mas não atentam para que um dos grandes problemas do trânsito nas cidades grandes é justamente o automóvel. Esquecem de investir em alternativas, como o transporte público de qualidade, de mostrar a bicicleta como alternativa. O que questiono é que não é visto o mesmo esforço empregado em outras causas, como a tarifa que pagamos nos ônibus, como a cobrança do processo licitatório para o transporte público municipal que ainda espera e não sai do papel”, salienta Daniel Moura, em contraponto ao protesto.

Não se trata – na visão dele - de ser contra, afinal como já destacado o preço é abusivo mesmo. Mas se vê, conforme Moura, uma excessiva mobilização da classe política, que não se vê em outros temas de igual ou maior importância. “É preciso que se tenha o mesmo ânimo para discutir o investimento em outras formas de deslocamento, incentivando melhorias na logística da cidade, do transporte e do trânsito, pensando no ciclista, no pedestre, no usuário do transporte coletivo...”, detalha o representante da bicicletada.

Resolvi ouvir Daniel Moura e dar este espaço a suas reflexões, porque acho que é um contraponto de fato interessante que pode gerar uma discussão sadia, em benefício de todos. Estamos – afinal de contas – criando cidades para os automóveis; as vias públicas não são mais das pessoas, mas sim das máquinas. E – quanto mais a cidade cresce – mais o conceito de melhoria de trânsito é abrir novas vias, criar veias no emaranhado da selva de pedra para o deslocamento rápido dos possantes, esquecendo discussões paralelas que já avançam em outros países, mas adormecem por aqui.

Opções como o VLT – caso se torne um dia, quem sabe, uma realidade! – dentre outras, incluindo a própria bicicleta, são válidas. O nosso Plano Diretor, por exemplo, parece ter esquecido do passeio público para os pedestres. É interessante quando uma discussão puxa a outra, pois o tema da gasolina é sim relevante e – minha opinião – deve sim ser reconhecido o esforço de determinadas autoridades para esclarecer o porque de pagarmos tão caro pelo combustível. Porém, há outros temas que podem ser puxados pelo novelo da temática; e que se tivermos coragem para refletir, teremos em mãos uma boa oportunidade. O movimento da bicicletada está na internet para quem queira conhecer mais: www.bicicletada.org