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sexta-feira, 16 de março de 2012

A Av. Márcio Canuto e os transtornos para os usuários de transporte coletivo


A mais nova obra realizada pela Prefeitura de Maceió, a Av. Márcio Canuto, só comprova a hegemonia que o automóvel continua tendo no Planejamento Urbano de Maceió. A nova via poderia simplesmente funcionar como um atalho ligando as avenidas Muniz Falcão e Juca Sampaio. Porém, a Prefeitura optou por transformar algumas vias adjacentes em sentido único, acreditando que isso trará melhorias ao trânsito de automóveis. Se trará melhorias para os automóveis, nem mesmo a SMTT sabe quantificar.





Os mais prejudicados com a mudança são os usuários de transporte coletivo, principalmente os que residem nas imediações do bairro do São Jorge, pois terão que se deslocar cerca de 700 metros até o ponto de ônibus mais próximo, já que os ônibus que seguem no sentido Serraria/Jacintinho terão seu trajeto alterado. Em entrevista ao Jornal da Pajuçara Manhã, no dia 16/03, o representante da SMTT foi indagado sobre essa questão e, surpreendentemente, respondeu da seguinte forma: "Essas pessoas podem ficar despreocupadas porque é normal a pessoa estranhar num primeiro momento. Mas depois elas vão se acostumar e tudo vai fluir tranquilamente."


É importante ressaltar o que diz o Plano Diretor de Maceió, no que se refere às diretrizes gerais para implementação da mobilidade no município:

Art. 79, inciso II – "prioridade aos pedestres, ao transporte coletivo e de massa e ao uso de bicicletas, não estimulando o uso de veículo motorizado particular”.

Contudo, observamos que a Prefeitura vem descumprindo este artigo da Lei. O que se pode comprovar é que as mudanças são realizadas visando a melhoria do trânsito de automóveis e os usuários de transporte coletivo, ciclistas e pedestres simplesmente são obrigados a se adaptar aos transtornos causados por essas mudanças.

Não se trata apenas do descumprimento à Lei (como se isso já não fosse suficiente). Os gestores municipais de Maceió se fazem de cegos para não enxergar a mudança de paradigma pela qual passam inúmeras cidades do mundo. Até meados da década de 1970, no auge do rodoviarismo brasileiro, acreditava-se que todo cidadão, um dia, teria seu próprio carro para se deslocar.

Porém, o mundo mudou e parece que Maceió parou no tempo. Hoje, já está mais do que provado que não há solução para o trânsito de automóveis nas cidades. Pode construir viadutos ou novas vias, pode mudar sentido de vias, pode fazer o que for... Mais carros serão vendidos e as ruas voltarão a ficar congestionadas. A solução é inverter a lógica atual: colocar o automóvel em último plano. É preciso ter o transporte coletivo como foco principal das ações do poder público. Cada ônibus é capaz de transportar mais de 50 passageiros, o que equivale a 50 carros a menos congestionando as ruas. Por isso, é preciso privilegiar o deslocamento dos ônibus, tendo corredores exclusivos para que eles cumpram seus horários e não fiquem presos nos congestionamentos gerados pelos milhares de carros.


Dificultar a vida daqueles que utilizam o transporte coletivo não parece ser uma medida muito inteligente para uma cidade que queira priorizar esse meio de transporte.


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Notícias posteriores à postagem no blog:

- Moradores do São Jorge fecham avenida no Barro Duro
- Mudança no trânsito provoca protesto na Avenida Márcio Canuto
- Engarrafamento e protesto paralisam toda a região da Av. Márcio Canuto
- SMTT muda trajeto de linhas de ônibus da Márcio Canuto
- Pontos de ônibus no Barro Duro estão contemplados no projeto, diz SMTT

Pelo que deu para entender a explicação do Sr. Amaro Dias, no penúltimo parágrafo da notícia acima, o novo trajeto dos ônibus ficará da seguinte forma:


Ou seja, na obra que tem a intenção de melhorar apenas o trânsito de carros, os passageiros de ônibus terão que fazer um "arrodeio" para tentar resolver parte do problema, já que as pessoas que moram próximo ao Fórum terão que continuar caminhando grandes distâncias. Um verdadeiro "arrumadinho"...

- Falhas no transporte público geram críticas à Avenida Márcio Canuto

Bastante pertinentes as coloações do Prof. Antônio Facchinetti na notícia acima:

"Não participei da concepção do projeto da avenida e não o conheço em detalhes, mas pelos transtornos verificados à população, me parece que não houve uma pesquisa aprofundada sobre os impactos no transporte público na região. Quando se fala em fluência do trânsito, claramente isso se refere aos carros, pois não houve, por exemplo, projeto para uma faixa exclusiva para ônibus. Enquanto não priorizarmos o transporte público, não teremos avanços no trânsito.”

Bastante pertinentes também as declarações de Walessa Lins, usuária de transporte coletivo que parou para falar com a reportagem:

“Isso é uma barbaridade. A gente se sente um lixo, pois não fizeram pesquisa com a população” (...) “Mais uma vez, a prefeitura fez investimentos preocupada com quem anda de carro. Antes, nós tínhamos cerca de 15 linhas de ônibus à nossa disposição. Agora, o que sobrou foram poucas linhas, que já passam por aqui lotadas. Sem falar no perigo que é atravessar essa avenida agora, sem faixas de pedestres, nem semáforos. A nova avenida deveria ser uma opção e não uma obrigação.”


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Leia também:

- Ideias equivocadas

- Uso racional do espaço