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segunda-feira, 19 de março de 2012

Márcia Shoo


Texto de Márcia Shoo sobre o protesto realizado em 28/02.

Organizada pela Associação Alagoana de Ciclismo (AAC), a Bicicletada em protesto aconteceu na noite do dia 29 de fevereiro de 2012, seguindo o trajeto Ponta Verde, Avenida Fernandes Lima e Avenida Menino Marcelo, na Via Expressa, local onde o ciclista Carlos Alberto foi morto por um ônibus, no dia 22 de fevereiro, quando se locomovia de casa para o trabalho (ou do trabalho para casa).

Apesar das incongruências de alguns poucos ciclistas que se exaltaram com a intolerância do motorista de ônibus da linha Eustáquio Gomes-Ponta Verde, que ensaiou passar por cima das bicicletas deitadas sobre a pista, num apelo dos ciclistas por mais segurança, pela melhoria e ampliação da malha cicloviária de Maceió até os bairros distantes e menos favorecidos, a manifestação foi de caráter pacífico e de extrema importância para uma terra carente de políticas públicas e com seus movimentos sociais fragilizados pela descrença histórica no poder público.

A noite foi linda e coletiva sobre duas rodas, ou melhor: sobre centenas de rodas. Mais de 100 ciclistas dividiram com os carros parte das avenidas mais movimentadas da cidade, numa ação respeitosa com motoristas e pedestres.

Passei um bom tempo fora de Maceió e durante esse tempo retomei um hábito perdido na infância: pedalar. Há quatro anos ando de bicicleta por prazer, por esporte e por acreditar neste veículo como uma alternativa mais barata, mais saudável e menos poluente de locomoção nos meios urbanos. Participando pela primeira vez de uma experiência como a bicicletada, fiquei surpresa e feliz ao ver ciclistas alagoanos, em grande número, envolvidos numa causa séria e urgente. Se há verba e há necessidade, por que não há execução?

É preciso descruzar os braços, sair da omissão, do conforto individualista. É preciso dar ouvidos e reunir vozes aos movimentos sociais, extremamente importantes na construção de uma sociedade mais justa, saudável e feliz consigo mesma. A questão da precariedade do transporte urbano em Maceió, em todos os seus aspectos, está se agravando. Ruas abarrotadas de carros, motoristas sem qualquer discernimento coletivo para o trânsito; péssima estrutura viária para pedestres, ciclistas, patinadores e skatistas; e o aumento absurdo das passagens de ônibus sem qualquer melhoria neste meio de transporte. E aí? O que a gente faz?

Pensa, questiona, se une, se organiza, corre atrás, insiste, persiste e resiste. Um dia a água mole, de tanto bater, faz brotar algo bom neste asfalto."

Márcia Shoo

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Ontem (18), por uma imprudência, Márcia nos deixou, atropelada por um caminhão de cana-de-açúcar, quando voltávamos de um passeio a uma cachoeira em São Luiz do Quitunde. Ficará a ausência de mais uma guerreira que acreditava numa cidade mais humana.