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domingo, 6 de julho de 2014

O desinteresse americano por shoppings

Desde 1990, os grandes centros comerciais vêm decaindo e 2007 foi o primeiro ano, em mais de 4 décadas, em que nenhum foi aberto

Por James Greiff - Bloomberg / Reuters
Tradução de Terezinha Martino

Na semana passada o Slate publicou fotos de enormes shopping centers decadentes, vazios, que fazem parte de um novo livro, Autópsia da América.

As imagens são impressionantes e o momento não podia ser melhor. Os grandes centros comerciais erigidos nas áreas suburbanas e hoje abandonados estão na moda. Um grupo do Facebook, The Dead Malls Enthusiasts (Os entusiastas dos centros comerciais defuntos) conta com 14.000 membros. Uma pesquisa no Google sobre os “dead malls” (centros comerciais mortos) produz 5,7 milhões de resultados. E os interiores desolados dessas mecas do varejo continuam a aparecer nos thrillers e filmes de terror.
  
Shopping em Ohio, o terceiro Estado a ter o maior número de centros comerciais abandonados
(Deadmalls.com/Divulgação)
 
As fotos chamam a atenção para algumas mudanças fundamentais da América suburbana e da experiência do varejo, embora os urbanistas que esperam que esses shoppings esvaziados contribuam para a revitalização do centro da cidade possam se decepcionar. A realidade é mais complexa.
  
Alguns aspectos devem ser levados em consideração. Uma raça em extinção: o que alguns escritores costumam chamar de “centro comercial” acabou. Tente encontrar alguém pensando em abrir um novo shopping center regional, esses edifícios com mais de 100 lojas circundados por uma enorme área de estacionamento. Desde 1990, quando um espaço de compras de 1,489 milhão de metros quadrados foi aberto, os centros vêm decaindo e 2007 foi o primeiro ano em mais de quatro décadas em que nenhum shopping foi inaugurado nos EUA. Apenas um foi aberto desde então, em 2012. 
  
As modalidades de desenvolvimento urbano menos sustentáveis do passado — centros comerciais, parques empresariais e avenidas de comércio — vêm sendo cada vez mais reformuladas dando lugar a espaços mais urbanos e sustentáveis, com prédios e espaços que fomentam a colaboração comunitária, a diversidade e reduzem o tráfego.
 
Há apenas um problema. Os shoppings em decadência estão localizados em áreas onde toda a economia local está em frangalhos, o que torna difícil ver como o varejo urbano se beneficiará. Na verdade, alguns desses shoppings defuntos estão no centro de cidades que adotaram o modelo de shopping suburbano tentando em vão trazer as pessoas de volta para o centro.
   
Isso fica claro apenas ao olhar a lista dos centros de compras abandonados ou em vias de fechar por Estado, listados no website deadmalls.com. Nova York lidera com 42 locais, quase todos eles ao norte do Estado. 
   
Não é coincidência o fato de que 5 das 10 áreas metropolitanas com crescimento mais lento, citadas num recente estudo encomendado pela Conference of Mayors dos Estados Unidos, estão ao norte do Estado de Nova York. A Pensilvânia é a próxima da lista de centros em extinção, com 28. Illinois e Ohio empatam, com 27.

Compras online. Uma fator óbvio. A internet está fazendo com os shoppings o que eles fizeram com os centros das cidades. Tudo o que a J.C.Penney — clássica rede de lojas — vende, a Amazon.com oferece por um preço menor. A Amazon também se dá ao luxo de ter acionistas muito pacientes que não exigem lucros imediatos.
  
Compra online é uma força que poucas lojas convencionais conseguiram vencer. Desde 1999, quando as vendas pela internet eram insignificantes, o comércio eletrônico disparou. No primeiro trimestre de 2014, elas alcançaram US$ 71 bilhões, uma taxa anual de quase US$ 300 bilhões por ano, o equivalente a mais de 6% do total das despesas do varejo nos Estados Unidos.
 
O envolvimento com a comunidade dos adolescentes e jovens, tendo uma vida social nos shoppings também mudou, em parte, pela mídia social.
  
As compras online e a negligência local ajudam a explicar por que a frequência nas lojas declinou tanto.
  
Os centros de compras ainda vêm conseguindo algumas isenções fiscais. No ano passado, o Legislativo de Minnesota aprovou a quantia de US$ 250 milhões em benefícios fiscais a serem aplicados na duplicação do segundo maior centro de compras do país, o Mall of America.
     
O dinheiro veio de um fundo criado para reduzir as disparidades econômicas entre áreas ricas e pobres. Por outro lado, New Jersey injetou US$ 390 milhões num projeto de shopping center nas Meadowlands, conhecido como Xanadu, que deveria ser aberto em 2006. Os incorporadores esperam inaugurá-lo em 2016 com um novo nome: American Dream.
  
Maior do mundo. Dubai está lançando um projeto para construir um distrito de entretenimento e hotelaria que vai incluir o maior shopping center do mundo, afirmou no sábado, o governante do emirado, xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum.
 
Os planos para o projeto “Shopping do Mundo” foram originalmente revelados 18 meses atrás, ajudando a disparar um forte rali nos mercados imobiliários e de ações de Dubai. O anúncio deste sábado parece indicar que o trabalho no projeto poderá começar agora.
  
A última versão dos planos inclui a construção de um shopping com 743 mil metros quadrados, conectado a um parque de diversões, cinemas, instalações para turismo de saúde e 100 hotéis e prédios de apartamentos com 20 mil quartos. O complexo poderá abrigar por ano 180 milhões de visitantes, pouco menos que a população brasileira.
   
Dubai ainda está se recuperando da crise de dívida de 2009 e o Fundo Monetário Internacional alertou que uma série de projetos imobiliários pode levar a uma nova bolha.

Fonte: Estadão
  
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