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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

As cidades não se comunicam com os pedestres

Foto: Luiz Augusto Lucas/SMCS
  
Diante de ruas que só falam aos carros, campanha pede que autoridades pensem em sinalizações para os não motorizados
    
por Reinaldo Canto — publicado em 01/08/2014 às 18h30
       
O leitor já deve ter se deparado com a seguinte situação ao caminhar por ruas e avenidas de qualquer cidade brasileira: você precisa chegar a algum lugar, um determinado endereço que sabe estar próximo. Procura uma placa de sinalização, muitas vezes inexistente, mas ao finalmente encontrá-la, ela aponta um caminho, mas... que caminho?

Você sabe que essa localidade está à sua esquerda, mas a placa aponta a necessidade de pegar a direita e fazer uma conversão mais à frente. Se você está a pé, que sentido faz isso? Nenhum, claro. O que acontece é que essa sinalização não “fala” com o pedestre. Ela se dirige, exclusivamente, aos seres devidamente motorizados.

Esse não é um caso isolado. Cerca de 90% de toda a sinalização existente em nossas cidades são dirigidas para motoristas, ou seja, para um público que, nem ao menos representa a maioria dos deslocamentos nas cidades.

Uma recente pesquisa divulgada pelo Datafolha em São Paulo constatou que o ônibus é o principal meio de transporte diário das pessoas, com 79% das respostas. Em seguida vem o metrô, com 39%, e só em terceiro lugar aparecem os carros, com 17%, um pouco à frente dos usuários de vans, lotações e peruas, com 13%.  Ainda segundo a pesquisa, 7% dos entrevistados disseram andar apenas a pé.

Uma campanha do portal Mobilize especializada em mobilidade urbana e denominada Sinalize quer contribuir para mudar essa realidade.

Para os organizadores do movimento, o objetivo não é “encher as cidades de placas” que, obviamente, contribuiriam para uma enorme poluição visual, mas buscar melhor interação e conforto para pedestres, ciclistas e usuários de transporte público.

Aliás, outra questão apontada pelo Mobilize é exatamente a atenção que se dá aos passageiros de ônibus que, em geral, é nenhuma! Basta estar em algum ponto de ônibus e tentar descobrir quais linhas passam por ali, os respectivos itinerários e indicação de locais de interesse como hospitais, serviços públicos diversos e pontos turísticos.

Também de modo geral os ciclistas não são contemplados com placas específicas para esses usuários, com exceção a locais perigosos nos quais os riscos de acidentes são enormes.

Os cuidados, então, com a segurança dos deficientes visuais, como a instalação de sinais sonoros, é praticamente inexistente. Fato que prejudica demais a mobilidade e a independência colocando em risco a própria integridade física dessas pessoas.

Várias cidades do mundo, como Londres, Nova York e Paris, já possuem uma série de sinalizações positivas que contribuem para melhorar e facilitar a vida das pessoas. São totens estrategicamente localizados, mapas e indicações de pontos de interesse que ajudam muito os pedestres a se movimentar com rapidez e segurança nessas metrópoles.

No Brasil temos um longo caminho pela frente e muitos desafios. São inúmeras as ações necessárias para tornar uma cidade mais humana, amigável e próxima dos cidadãos. E, sem dúvida, aquelas que levem a inclusão e o respeito contribuem muito para uma vida mais feliz e equilibrada.
 
Fonte: Carta Capital | Opinião